
Emburrada, ela sentou no tapete verde que sua mãe havia comprado na viagem para a Turquia e começou a examinar os livros espalhados pelo chão. A estante estava vazia. Não entendia o porque fez aquilo, derrubar os livros das prateleiras com tanta ira. Tomada por vertigens e labirintos e uma imensa culpa por ter jogado no lago os brincos preferidos de sua mãe, ela perde a cabeça e como um furacão, atinge o alvo imutável de seu doce lar. 'Estante inútil! Ninguém toca nesses livros mesmo, eu aposto que eles nunca foram lidos por ninguém desta casa, estão aqui ocupando espaço e servindo como amostra, status'. Seu pedido de aniversário fora negado pelos pais, um cachorro, animais dão trabalho, são barulhentos, sujam a casa, e fariam xixi no lindo tapete turco onde estava sentada no momento. 'Não posso ter um animal, mas essa estante ridícula lotada de livros nunca tocados...', não concluiu seu pensamento, achava que não valia a pena tal esforço mental, ainda tinha que recolher todos aqueles livros no chão antes que a visita chegasse em casa para o chá. 'Nunca gostei de chá'. Era sempre aos sábados que sua mãe reunia as amigas para tomar chá com biscoitos deliciosos e caros, e conversar sobre futilidades de uma sociedade hipócrita e cheia de máscaras. 'Odeio essas reuniões, a única vantagem disso é que fico sempre em segundo plano, minha mãe sempre atordoada em executar um serviço impecável para causar inveja e escutar elogios sob a mesa bem posta e os deliciosos biscoitos suíços raros de serem encontrados nesta cidade'. Faltavam apenas alguns livros. Ela pensou em jogá-los no lago assim como fez com os brincos, mas novamente achou que não valeria a pena. Botou o último livro na prateleira. 'Pronto'. Saiu da sala, observou por uns cinco segundos sua mãe de avental organizando a mesa da varanda , deu um suspiro e subiu as escadas com destino ao seu quarto.
Paula B.